domingo, 27 de março de 2011

Os Olhos de Liz Taylor.


Acordo com uma melancolia difusa, uma pequena nota dissonante reverberando no peito. Como se uma das cordas da minha guitarra estivesse um pouco desafinada. Olhando-me no espelho momentos antes de lavar o rosto, descubro duas ruguinhas que não estavam ali ontem. Enquanto espremo o tubo da pasta de dente, numa tentativa quase inútil de encontar alguma pasta dentro daquele tubinho tantas vezes espremido e reespremido, distingo uma sombra inusitada no meu próprio olhar. Na pia jazem alguns fios de cabelo branco. Já na mesa do café, enumero mentalmente as razões que poderiam estar me causando aquela sutil melancolia matinal:

1- A anulação pelo STF da validade da Lei da Ficha Limpa nas eleições do ano passado. Hum. Por que razão, excelsas excelências? Não, não precisam explicar. Eu só queria entender. Sinceramente, admito minha insensibilidade, não me dou mais ao trabalho de compreender as obscuras razões por trás das intrincadas decisões de nossos ministros, políticos e governantes.

2- Os níveis de radiação nuclear no Japão continuam preocupantes. Mas eu já sabia disso ontem e, admito minha insensibilidade, não estou tão preocupado com os problemas dos japoneses.

3- As inevitáveis mortes de civis acarretadas por esses duvidosos ataques aéreos “cirúrgicos” à Líbia. Sim, são lamentáveis mas, admito minha insensibilidade novamente, não estou mobilizado com essa questão, ou com qualquer outra. Estou me tornando um insensível, é verdade.

Mas ao abrir o jornal, lá estava a foto. Compreendi de repente o motivo da minha pequena depressão matinal (e a razão das notas desafinadas que continuavam soando no meu cérebro). Eles me fitavam translúcidos, como duas pérolas a indicar que a vida é um sonho muito fugaz e passageiro porém infinitamente belo. E trágico.

Os olhos de Liz Taylor ainda conseguem me sensibilizar.

Por Tony Bellotto

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Chaplin, autêntico gênio.



Sem dúvida não deixa de ser um prazer ter a livre escolha para começar uma crônica com um depoimento dito por uma das poucas pessoas a quem poderia classificar como notável, no caso Charles Chaplin, o genial Carlitos. Aquele que pode ser incluído entre as dez mais importantes figuras da história do cinema. Disse ele: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e termine sem aplausos”. Ele foi fiel ao que revelou, teve várias mulheres, dinheiro, fez tudo o que desejava realizar em termos de cinema, porque não foi somente um personagem, ele viveu em meio ao drama e a comédia da vida, criou um dos tipos mais fascinantes nas telas dos cinemas. Empolgou com o seu tipo cômico que tudo indica deverá ser um clássico, um cômico irresistível, mas também um símbolo. Pobre, começou a vida artística aos cinco anos, substituindo no palco a figura materna que havia lhe ensinado todos os truques para dominar as plateias. Ainda jovem foi para Hollywood e surgiram as grandes chances. Criou o “Carlito repórter”, depois o “Carlito vagabundo” tão genial quando lembro o engraçado “O garoto”, seu começo e depois surgiria a emocionante e inesquecível série que vem encantando a todos até hoje, há quase um século, por que começou definitivo em 1914. Pelo indiscutível valor humano e pela sua perfeição como um intérprete.
(Fonte: Alex - JC)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A cantora Marilyn Monroe era demais!

As cantoras do Cine Eldorado



Sempre achei que Marilyn, a Monroe, era melhor cantora do que atriz. Como atriz, independentemente da explosão de sensualidade que provocava ao surgir na tela, ela era uma canastrona incorrigível. É claro que, quando o personagem combinava com essa característica, como em "O pecado mora ao lado" ou "Quanto mais quente melhor", Marilyn era insubstituível. Mas, como cantora, ela não errava nunca. Afinadíssima, sexy e com um registro bonito à beça. Aqui ela canta "I Wanna Be Loved By You", . Ela está aqui pra gente ouvir. Ouça e diga se eu não tenho razão. (Fonte: Blog do Xexéu).

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Doris Day canta muito.

As cantoras do Cine Eldorado



O sucesso que Doris Day fez no cinema na década de 60 do século passado acabou deixando de lado a sua carreira de cantora. O talento de comediante que fez par com Rock Hudson numa série de comédias românticas em que ela sempre cantava, pelo menos, na trilha sonora foi mais forte que seu dom vocal. Além disso, a série de musicais que ela estrelou nos anos 40 e 50 na Warner não entraram para a História do cinema, como os musicais da Metro. Resumo da ópera: hoje, ela é mais lembrada como atriz do que como cantora. No entanto, foi uma das melhores cantoras de seu tempo... tá bom, de todos os tempos. Quem duvida, que ouça aí no vídeo sua interpretação para "Que Sera Sera". (Fonte: Blog do Xexéu)




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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Agripino Cavalcanti e o Cine Eldorado

Agripino Cavalcanti de Albuquerque
A vida do meu avô, Agripino Cavalcanti de Albuquerque está essencialmente ligada à história do cinema no interior da Paraíba, particularmente na cidade de Patos, alto sertão, distante 370 km da capital, João Pessoa. Meu avô fundou o Cine Eldorado em 1934, aos 26 anos de idade.

Seu pai, Getúlio Cavalcanti, que já tinha fundado o Cine Capitólio em Campina Grande, instalou o Cine Popular, na cidade de Alagoa Grande e assim a paixão do meu avô Agripino pelo cinema estava na alma, onde desde criança interessava-se pelas películas que seu pai ia buscar nos centros maiores para exibir na cidade. Era quase sempre filmes sobre vidas de santos, trajetórias de musicistas, dramalhões ou anti-heróis do cinema mudo. O interesse dele pela sétima arte era tão grande que, muitas vezes, seus pais o repreendiam, quando o viam deixar de lado o aprendizado das primeiras letras. Com a adolescência, o gosto pelo cinema acentuou-se cada vez mais. Compenetrado, observador e dividindo o tempo com estudos, mais tarde complementados na cidade de Campina Grande e na capital paraibana. Ele foi um jovem como tantos outros de sua idade e condição social: procurava conhecer as principais obras da literatura, cumpria os deveres sociais e religiosos, ia à missa com sua mãe aos domingos, convivia com a rapaziada de sua época e paquerava as moças bonitas da cidade. Dentre elas, a que lhe tocou o coração e que ele acabou casando em 1935, a jovem Maria José Araújo (Lili), nascendo dessa união cinco filhos: Lilian, Marlene, Maria José, Getúlio e Tânia Lúcia. Foi um pai tão exemplar que possuia entre parentes e amigos de seus filhos uma legião de admiradores que o viam como pai e mentor. Ele pode ser considerado o fundador do cinema mais promissor, o cinema dos tempos áureos, o jovem que chegou em Patos, cheio de coragem e de idéias a para implantar um cinema naquela cidade sertaneja cuja população ressentia-se com o fracasso de todos os empreendimentos anteriores do gênero. Com instalações amplas e modernas, surgia um novo horizonte para o cinema em Patos. A população, já bem mais politizada e com os cartazes evoluindo em meio ao progresso e comportamento social, comparecia em massa às sessões do Cine Eldorado, dando auto-suficiência ao empreendimento. Aliás, nem poderia ser diferente uma vez que Agripino Cavalcante de Albuquerque era habilidoso e de grande cultura (dominava o inglês, francês e italiano), além de ser filho de dono de cinemas.
Em 1934 ele consegue implantar o cinema de 35 mm que em nada ficava a dever aos das cidades maiores denominando-o de Cine Eldorado. Entretanto foi na década de 40, justo na cidade sertaneja onde o cinema logrou maior desenvolvimento. Meu avô, com sua sensibilidade artística, inteligência admirável, criatividade, ao lado do técnico Joaquim Araújo e do mecânico Abdon formaram o tripé do mais bem aparelhado cinema do sertão.

Agripino Cavalcanti primava pelos bons costumes, o bom comportamento e a classe dos habitues do cinema, não admitindo qualquer tumulto ou algazarra durante as sessões. Todas as noites fazia-se presente, dando o tom de sua seriedade ao estabelecimento. Quando a platéia se empolgava, ele interrompia a projeção, acendia a luz e dava uma lição de moral no público presente, quase sempre iniciando com a costumeira expressão “Moleques de Gravata”. Lembro-me que numa das vezes em que era projetado o filme “Os Cafajestes”, com Jece Valadão, na década de 60, as cenas fortes causaram o maior “auê” na platéia com gritos e assobios, ao que meu avô acudiu com o discurso “Espero que os cafajestes estejam só no filme e não neste recinto de respeito”. Fez-se silêncio total e ninguém mais teve a coragem de ensaiar um assovio sequer.

Por tudo isso, Agripino Cavalcanti pode ser considerado acima de tudo um ideólogo, um educador, e também um filósofo que trabalhava para enriquecer o imaginário social da terra sertaneja com seus valores, seu caráter, suas idéias que ainda hoje frutificam junto aos que o admiram.

A forma como trabalhava no cinema era interessante: de seis em seis meses viajava a Recife para planejar a programação de todo o semestre. Uma vez selecionados os filmes, ele voltava a Patos para esperar chegar os borderôs e cartazes pelo trem. Escolhia pessoalmente cada filme, na maioria das vezes, primando pela película de conteúdo moralizante e mensagens educativas. Escolhia com todo cuidado os filmes para platéias particulares, como alunos de colégios religiosos, internas de colégios e anunciava então: “Hoje não haverá sessão porque a casa está alugada”. Levou para Patos filmes antológicos como “O Ébrio”, “...E o Vento Levou”, “Casablanca”, “O Imperador”, “Sissi, A Imperatriz”, entre outros. Sempre casa cheia e muita gente saindo com os olhos vermelhos de chorar. Trabalhava sem parar, de manhã e à tarde no escritório do cinema, e, à noite, conduzindo as sessões. Tudo com muita organização: segunda-feira realizava-se a sessão popular, com a reprise do filme de domingo a preços promocionais, na quarta-feira havia a sessão das moças e, na quinta, a sessão dos seriados dos quais os mais famosos foram o Falcão, A Caveira, Capitão Marvel, Simbad, entre outros. Quando foi inaugurado o cinemascope colorido, passou o filme “Desirée, o Amor de Napoleão”.

As pessoas da cidade caprichavam no vestuário, os homens com chapéus de feltro e camisas de seda, as mulheres vestidas de tafetá, organdi, tergal, quase sempre trazendo laços e flores nos cabelos.
O Cine Eldorado também fazia às vezes de teatro e casa de shows, principalmente nas décadas de 50 e 60, quando ali se apresentavam troupes a exemplo da Cia. Iracema de Alencar, Barreto Júnior, Ítalo Cureio, cantores como Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Orlando Silva, Silvio Caldas, Francisco Petrônio, Emilinha Borba, Marlene, e artistas como o palhaço Carequinha, Zé Trindade, Ankito, Grande Otelo e tantos outros. O Cinema também foi palco de vários festivais de músicas universitária daquela região do sertão.

No início dos anos 70 veio a explosão dos filmes de Kung Fu e Pornochanchadas brasileiras e Agripino Cavalcanti resistiu bravamente a exibição destes filmes no Cine Eldorado.

Quando aposentou-se, o cinema foi vendido para um empresário do Rio Grande do Norte, que logo mudou o nome do cinema para Cine São Francisco, exibindo filmes de todas as categorias.

Agripino Cavalcanti passou a cultuar a saudade da arte que tanto amou e enalteceu durante toda a vida. Acredito que a sua saudade só não era maior porque se distraia e sentia-se útil trabalhando como secretário da Câmara Municipal de Patos, ou ainda, levando suas idéias às reuniões do Lions Club. Faleceu em 30 de abril de 1978, deixando uma legião de amigos, admiradores e discípulos que ainda hoje relembram os grandes serviços que ele prestou à cidade e à Sétima Arte.

Quando foi criada a Academia Paraibana de Cinema, Agripino Cavalcanti passou a ocupar a cadeira de número 48, tendo como patrono o Sr. Carlos Trigueiro, e foi homenageado assim: “Foi o mais operoso e educativo dos pioneiros exibidores cinematográficos do sertão paraibano. Via o cinema, não apenas como um negócio, mas como um excepcional instrumento educativo. Construindo, exibindo, administrando casas de exibição ele estendeu sua ação cinematográfico-educativo por várias cidades do sertão paraibano. Agripino poderia enquadrar-se no conteúdo de uma doutrina, repleta de sabedoria, segunda a qual, a melhor forma de ensinar é fazer com que a criança não tenha os estudos como castigo, mas como um prêmio, um presente, uma brincadeira. O que vale dizer: educar deleitando".
Creio, que o cinema criou imagens que são expressão de coisas e pessoas com as quais convivemos em nossas lembranças. E as lembranças têm origem em muitos lugares e situações: nas histórias que ouvimos em casa, nas experiências pessoais de cada um, na televisão, nos filmes. Também por isso gosto da idéia de que o cinema é uma arte da memória. As cenas que vemos estampadas nas telas não dizem somente daquelas personagens cuja história se desenvolve à nossa frente, no tempo que durar a projeção, mas remetem a todas as outras histórias e personagens que habitam as nossas lembranças. O cinema, com alguns dos seus filmes, nos faz até mesmo sentir saudade de lugares aonde nunca pisamos e de pessoas com as quais jamais estivemos. E o faz em realidade e ficção. Comecei a conhecer o mundo na tela do Cine Eldorado. Conheci o Coliseu, O império Romano, o Antigo Egito e suas pirâmides fabulosas, a Grécia Antiga, o Velho Oeste, as touradas de Madrid e do México (com Cantinflas), Paris, Nova York, Veneza e Copacabana com suas lindas garotas que cantavam e sambavam como ninguém. Agradeço ao meu avô por ter me despertado a paixão pelo cinema.
Por Marcelo Luiz Cavalcanti Teixeira - Neto e admirador.
(Fontes pesquisadas: Academia Paraibana de Cinema - Patos em Revista - Jornal a União - Edição n° 08 de 26/09/2000 e Fátima Araújo (Do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano).

Esta cena com Jece Valadão e a belíssima Norma Benguell, precede o primeiro nú frontal do cinema brasileiro, realizado por Norma Benguell. O filme foi interditado pela censura. Canção do filme com o mesmo nome de 1966. Gigliola era a atriz principal. Estrelando: Charlton Heston, Jack Hawkings, Haya Harareet, Stephen Boyd. Oscar da Academia em 1959. http://www.youtube.com/watch?v=CpZjvbSC9

O cinema mudou?

Na minha infância e adolescência assisti muitos filmes, principalmente no Cine Eldorado, fossem os mais recomendados pela crítica, os candidatos ao Oscar, aqueles interpretados pelos meus atores e atrizes preferidos. Nesse último caso, lembraria Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (1961), com uma toalha enrrolada na cabeça depois do banho, seus dedos tocando suavemente um violão. Ela tinha aquelas bochechas de porcelana, aquele queixo afilado, aqueles olhos castanhos, Cary Grant, este talvez o melhor ator de cinema de todos os tempos, era capaz de encarnar o bem e o mal simultaneamente, Gregory Peck, Marlon Brando, Gary Cooper (em Matar ou Morrer, 1952, quando aparecia na tela, transformava todos os outros em apenas coadjuvantes que desapareciam do seu lado), Clint Estewood, Burt Lancaster, Mia Farrow, os velhos, mas excelentes atores ingleses, para citar apenas estes. O que mudou na verdade foi o cinema, ou melhor, os filmes atuais, os atores são apenas fortões e posudos. Os filmes de grandes sucessos de bilheteria são com os garotos bruxos, vampiros que estão na moda, efeitos especiais exagerados, etc. E onde estão os grandes atores e filmes sérios? (Marcelo)